No próximo sábado (30), Santos e Palmeiras decidem a final do maior torneio interclubes da América. E se o Peixe, mesmo em meio a problemas financeiros e políticos, conseguiu chegar quando nem mesmo o mais otimista dos santistas acreditava, isso se deve muito à importância do atacante Marinho no time santista. No entanto, até chegar ao ápice da carreira, Marinho enfrentou muitas dificuldades pessoais e profissionais na sua vida, e isso você verá logo abaixo.
Infância
Mário Sérgio Santos Costa nasceu em Penedo, no interior de Alagoas, e criado por uma família que, apesar de seus problemas, sempre lhe deu muito apoio para enfrentar as dificuldades que encontraria no futuro, algo que o próprio Marinho reconhece. No entanto, o pai do jogador sempre teve muitos problemas com alcoolismo, a ponto de levar seus filhos para o bar e só perceber que havia esquecido seus filhos quando chegou em casa. Por sorte, pessoas que estavam no estabelecimento não deixaram que o pai andasse com as crianças naquela situação.
Aos 10 anos, o futuro craque deu seus primeiros passos como jogador de futebol no Vasco da Gama de Penedo, e começou a ficar famoso na cidade devido a suas grandes performances, que já o fizeram competir com os mais velhos mesmo tão novo. Dessa forma, foi passando por outras equipes amadoras da cidade, até que pediu para o pai arrumar uma chance de entrar em uma equipe profissional, aceita pelo pai com a condição de que melhorasse seu comportamento. Feito isso, Marinho foi para o Penedense, equipe mais antiga do estado, aos 14 anos.

Categorias de base
No Penedense, já conseguia jogar pelo sub-20 logo quando chegou ao clube, e portanto não levou muito tempo para que Mário se mudasse para o Corinthians Alagoano, clube famoso por revelar grandes nomes ao futebol nacional e mundial, como os volantes Luiz Gustavo e Márcio Araújo (sim, aquele) e o meia Camilo, ex-Botafogo e Chape. No entanto, apesar de se destacar por lá, foi dispensado do time com a alegação de mau comportamento, e acabou voltando para a sua cidade natal.
Mesmo assim, Marinho não desistiu de seu sonho e conseguiu passar em uma peneira no Santos, em que ficou por quatro meses. Porém, o fato de não saber se ele teria seu contrato renovado — ele tinha assinado um contrato de seis meses à época — e a sua má adaptação à cidade fizeram com que fosse procurar outra equipe. Passou em peneiras em Vasco e Flamengo, mas não gostou da estruturas que os dois cariocas lhe ofereceram, e assim, assinou com o Fluminense, a pedido de Branco, ex-jogador e diretor do Tricolor à época.
Início da carreira profissional

Com um ano após sua chegada no Flu, o atacante teve a oportunidade de subir para o profissional, mas não obteve brilho nos jogos que disputou. Assim, Marinho assinou por cinco anos com o Internacional de Porto Alegre em 2009, com o status de grande promessa, o que não se concretizou. Com mais de 2 anos de Inter, o atleta só realizou 5 jogos, e depois disso acabou rodando por diversos clubes nos quais também atuou pouco.
Primeiramente foi ao Caxias para disputar a Série C do Campeonato Brasileiro de 2011, em que atuou somente 5 vezes; em seguida foi emprestado ao Paraná Clube para disputar a Série B do mesmo ano, e realizou apenas 7 partidas; depois foi novamente emprestado, dessa vez ao Goiás, em que jogou 19 vezes; e por fim, foi para o Ituano, onde participou de 11 jogos. Este obscuro período da carreira de Marinho foi marcado por muitas lesões e rendimentos abaixo do esperado, e as coisas começaram a mudar quando um personagem bem conhecido do futebol brasileiro entra na história: o técnico Lisca Doido.
O renascimento no Náutico
Em 2014, Marinho vivia um momento conturbado, e para piorar, seu contrato com o colorado havia chegado ao fim. Com isso, empresários que investiram no jogador procuravam algum clube interessado, até que descobriram que Lisca Doido estava de malas prontas para treinar o Náutico e entraram em contato. Quem conta a história é o próprio Lisca, em entrevista ao ge, nesta semana:
“Num momento difícil da carreira dele, o (Jorge) Machado, que era empresário dele, me chamou e disse: ‘Preciso que tu me ajude com o Marinho. O Marinho está há um ano e meio sem jogar. Fiz um investimento, os outros investidores também, estamos perdendo, estou sabendo que tu vai para o Náutico. Não quer levar ele?’. ‘Mas ele não joga há um ano e meio’. ‘Mas me ajuda’. E eu liguei para o Marinho. Ele: ‘Lisca, me dá essa brecha aí, que eu vou responder’. Levei o Marinho para o Náutico ganhando R$ 6 mil.”
E assim, mesmo ainda sofrendo com lesões, Marinho de fato respondeu. Os críticos podem até argumentar que ele fez apenas 2 gols em 24 jogos — o que de fato aconteceu — mas em meio a um limitado Náutico, que fazia uma Série B bem abaixo do que se esperava, o atleta conseguiu render no time e ganhar destaque. E com o bom momento, acabou sendo contratado pelo Ceará no ano seguinte.
O reconhecimento nacional no Ceará
Ao chegar no Ceará, Marinho não demorou para conquistar seu primeiro título no Vovô: a Copa do Nordeste em cima do Bahia. No entanto, o alvinegro tinha um time muito limitado e que caminhava a passos largos para o rebaixamento à Série C, chegando a ocupar a lanterna da competição. No entanto, Mário ainda era o melhor jogador do time, e conseguiu destaque dentro de campo e até mesmo fora dele.
Isso porque em uma partida contra o Santa Cruz, o jogador empatou o jogo com um gol nos minutos finais e tirou a camisa para comemorar. O que surpreende, contudo, é que o atacante não lembrava que estava pendurado, e o cartão amarelo tomado na comemoração o tirava do próximo jogo, o que rendeu uma entrevista impagável:
O meme do “sabia, não” serviu para que todo o país parasse para ver o futebol de Marinho, e muitos puderam perceber que o jogador era de fato muito bom. E dessa forma, foi despertada a atenção do Cruzeiro, que o contratou em junho daquele ano por R$1,2 milhão. Lá, não teve uma passagem brilhante, o que acabou o levando para o Vitória no ano seguinte.
A grande temporada no Vitória
Ao chegar ao Leão da Barra, Marinho teve um ano inesquecível. Foram 21 gols em 43 partidas, crescendo muito na reta final do Brasileirão, quando o rubro-negro brigava seriamente para não ser rebaixado. Não é nenhum exagero dizer que o atacante foi o grande responsável pela permanência, o que lhe rendeu até vaga na seleção do campeonato daquele ano pelo Lance!, mesmo com o Vitória tendo terminado o campeonato em 16º lugar e escapado da degola apenas na última rodada.
Com isso, diversas equipes brasileiras queriam a contratação do jogador, sendo o Flamengo como o mais forte candidato. Mas no fim, Marinho resolveu buscar sua independência financeira e assinou com o Changchun Yatai, da China, onde ficou por duas temporadas e marcou apenas 3 gols, algo bem frustrante para quem tinha ido tão bem no seu último clube.
Após a má passagem na China, foi contratado pelo Grêmio por R$10 milhões, e novamente não foi bem, marcando 5 gols em 28 jogos. Vendo as más atuações do atleta, e somadas a tentativa de recuperar o dinheiro investido no atleta e a necessidade de um zagueiro reserva no elenco, o Grêmio acabou trocando o jogador ao Santos por David Braz e mais R$5 milhões. E a partir daí, começaria o auge da carreira dele.
O fim do “meme”: a passagem mágica pelo Santos
Retornando ao clube que não se adaptou quando garoto quase quinze anos depois, as coisas começaram a brilhar para Marinho. A pedido de Sampaoli em 2019 para substituir Rodrygo no ataque santista, Marinho já teve uma boa atuação naquele ano, marcando 8 gols em 28 jogos e sendo peça importante naquele Santos que foi vice-campeão brasileiro. Ao final do campeonato, os atritos com a diretoria culminaram no fim da era Sampaoli na Vila Belmiro, e a perspectiva era de declínio sem o argentino, o que de fato ocorreu no início.
Mas mesmo com o declínio, Marinho ainda era um oásis no ataque do Peixe, e conseguia mostrar seu valor apesar de toda a crise que o clube vivia. Com a eliminação precoce no Paulista para a Ponte Preta, o Santos optou por demitir o sucessor de Sampaoli, Jesualdo Ferreira, e apostou no experiente Cuca para segurar a bronca em um time muito jovem num ambiente conturbado. E nem preciso dizer como deu certo aqui.

Hoje, o Santos consegue uma campanha razoável no Brasileirão, algo que já seria muito bom tendo em vista a meta inicial — a permanência na Série A. Mas a surpresa maior vem em outra competição: a Libertadores, em que o alvinegro praiano está na final, em jogo a ser disputado. Marinho, neste momento, além de estrela do time, é o artilheiro da Série A e forte candidato a craque do Brasileirão e Rei da América.
Marinho pode até não ganhar nenhum dos prêmios individuais, mas uma coisa ele já provou: está longe de ser apenas um meme. É, na verdade, um craque dentro dos campos e um vencedor na vida.