The Palace: muito mais que uma arena

The Palace of Auburn Hills foi uma das arenas mais populares dos EUA que ficava a 50 quilômetros da cidade de Detroit, em Auburn Hills. O motivo do local escolhido tem uma razão histórica que liga a cidade, o time e seus torcedores, e sua demolição encerrada no dia 11 de Julho de 2020 jamais fará com que o mundo se esqueça da importância daquela arena.

Uma breve história de Detroit

A maior cidade do estado de Michigan foi, em sua teoria, fundada pelos Franceses em 1701 e com a chegada de diversos imigrantes no século 19 e a evolução automobilística no início do século 20, se tornou a cidade mais rica dos Estados Unidos e uma cidade tradicional pelos seus times esportivos como Lions (Bicampeão da NFL nos anos 50), Tigers (Tetracampeão da MLB, com seu último título em 1984) e, principalmente, o Detroit Red Wings, a maior franquia de hockey baseada nos EUA que hoje tem 11 Stanley Cups.

Por conta da “Grande Depressão” dos anos 20 e diversos conflitos políticos que se baseavam no poder disputado entre filhos de imigrantes de Alemães e de Irlandeses, a cidade teve muitos problemas financeiros e sociais que são uma grande barreira até hoje.

A pobreza, o desemprego e o racismo foram um dos vários fatores que culminaram na Rebelião de 1967 que foi nada mais nada menos que um conflito entre afro-americanos contra o Departamento de Polícia de Detroit. O conflito perdurou por 5 dias e foi uma das rebeliões mais destrutivas de toda a história Estadunidense com 43 mortos, 1.189 lesionados, mais de 7 mil pessoas presas e pelo menos 400 prédios destruidos.

Até hoje há problemas sociais fortes em Detroit, além claro dos problemas políticos e econômicos que perduram por anos, mas essa é a mancha que fica em uma das cidades mais marcantes de todo o país.

O período pré-Palace

O Detroit Pistons era uma franquia da NBA que até tinha grandes jogadores como os Halls da Fama Dave Bing, Bob Lanier e o bicampeão da NBA pelo New York Knicks, Dave DeBusschere, mas nunca conseguiu alcançar o feito de vencer um campeonato da liga.

Antes de Isiah Thomas ser escolhido em 1981 no Draft, Detroit era um lugar onde nenhum jogador queria ir e quem estava por lá só pensava em sair. A mudança veio através do dono Bill Davidson e de seu “staff” dos sonhos com Jack McCloskey e Chuck Daly.

Na época, os Pistons jogava em Detroit na Cobo Arena e realizava algumas partidas na lendária Joe Louis Arena, mas o dono decidiu levar o time para jogar em Pontiac, no famoso estádio Silverdome que tinha capacidade para 80 mil pessoas. O motivo era simples, o centro da cidade era vazio e pouca gente queria ir para lá, já que houve grande migração para os subúrbios e era nesse local aonde os fãs dos Pistons estavam.

Nas primeiras temporadas de reconstrução dos Pistons, o grande Silverdome tinha uma sensação de vazio, já que os Pistons só foram lotar o mesmo estádio a partir de 1987, quando a equipe embalou uma sequência de Playoffs e com um time rodeado de estrelas.

A história sendo escrita

Em Agosto de 1988, enfim o The Palace foi inaugurado com uma capacidade para 22 mil pessoas e com um time pronto para ser campeão, já que vinha de uma derrota nas finais para os Lakers na temporada anterior. A identificação com a torcida estava forte e o lugar muito mais perto para o povo que esteve longe do centro em todos aqueles anos, o que culminou num sucesso iminente da arena.

O Pistons encantou a NBA com seus jogadores técnicos, mas também irritou muito a mídia e principalmente os nomes da NBA na época, Jordan, Magic e Bird. O time embalou dois títulos consecutivos tendo o The Palace como sua casa, apesar dos jogos decisivos não terem sido em Auburn Hills.

O time dos Pistons demonstrou um sentimento diferente para os torcedores de Detroit, já que conseguiu unir diversas pessoas diferentes nos mesmos lugares aonde houve a rebelião mas para a felicidade de seu povo que por um tempo não via seu time de Basquete ser poderoso a ponto de ser o melhor time do país.

A arena, considerada uma das primeiras arenas modernas da NBA, foi uma das razões de uma crescente enorme de construção de arenas para times da NBA, o que culminou num aumento financeiro para a liga e também para a popularização do esporte que passou a ser ainda mais popular devido ao sucesso de Michael Jordan.

Pistons dos anos 2000 e o Malice at The Palace

Nos anos 90, o time dos Bad Boys de Detroit se desmontou e veio uma nova safra de jogadores para o time além de uma mudança de cores e logotipo, o que de primeira instância não obteve o agrado de sua torcida que gostava mais das cores originais.

Após a saída de Grant Hill, último novato do ano da equipe, o time de Detroit se transformou em uma equipe competitiva apesar de ser pouco vista pela mídia esportiva, com o surgimento de jogadores como RIP Hamilton e Ben Wallace além da chegada de Chauncey Billups para a equipe.

O time chegou a uma final de conferência em 2003 perdendo para os Nets de Jason Kidd, o que culminou na demissão de Rick Carlisle e na chegada de Larry Brown e de Rasheed Wallace. Essa equipe ficou conhecida como “Going-to-Work” que demonstrava de forma clara e também ilustrava como era a mentalidade da cidade de Detroit e seu povo, um povo humilde e guerreiro que contra todas as adversidades lutava para conseguir seu objetivo.

O Pistons parava a cidade nos Playoffs e ajudou com que a arena tivesse uma das maiores médias de público da NBA liderando a estatística geral da liga em 6 de 7 anos com média de mais de 22 mil pessoas. O Palace era um dos lugares mais difíceis de se jogar e isso ajudou bastante com que o Pistons vencesse o Lakers e conquistasse seu 3º título da liga contra uma das melhores equipes de todos os tempos.

Mas como o Palácio era a casa de um dos times mais polêmicos de toda a NBA, não podia faltar uma briga, e essa foi uma das maiores de toda a história. O Malice At The Palace ocorreu em uma partida de temporada regular entre o Pistons e o Pacers, um confronto esperado por todos já que a equipe da casa derrotou os adversários nos playoffs anteriores com diversos jogos muito disputados. A partida já estava próxima do fim, mas quando Ron Artest dos Pacers cometeu uma falta contra Ben Wallace dos Pistons, o mesmo revidou o empurrando causando uma confusão entre as duas equipes.

Até aí tudo bem, era extremamente comum vermos discussões dessa forma na liga, mas tudo muda quando uma garrafa de água é arremessada em direção a Artest que corre atrás do torcedor para a agressão que é revidada por outros torcedores e o que causa uma das brigas mais polêmicas de toda a liga.

Torcedores invadiram a quadra e o jogo foi encerrado imediatamente com diversas imagens de torcedores sendo agredidos por jogadores rivais e vice-versa. Hoje a NBA busca nunca deixar marcado esse feito para que seja utilizado como um exemplo negativo em que um dos jogos mais esperados se transformou na maior vergonha pública da liga desde os terríveis anos 70.

O Pistons chegou a final contra o Spurs naquela temporada, mas acabou perdendo o título no jogo 7 em San Antonio. Após isso foram diversas finais de conferência até 2008 em que o time fora derrotado pelo Celtics e que depois disso não conseguiu vencer uma partida de playoffs até hoje (2021).

Detroit Shock e mais um Tricampeonato

O The Palace era a casa da extinta franquia da WNBA, o Detroit Shock, que contava com grandes jogadoras como Deanna Nolan, Swin Cash e Katie Smith (Hall da Fama), todas lideradas por um ídolo antigo da casa, o ilustre e polêmico Bill Laimbeer. A franquia era uma das piores da liga antes dele chegar e virar o time de cabeça para baixo, levando 3 títulos em 6 anos.

O Shock foi a primeira franquia sem ser Los Angeles e Houstons a ser campeã da WNBA, além do time ter conseguido a marca de 22 mil pessoas no jogo 3 das finais da liga, um recorde que perdura até hoje, mas que fora fácil para a equipe de Detroit que já havia conseguido a marca de 1 milhão de fãs na arena em 124 partidas.

Infelizmente a franquia ficou para trás, já que foi movida para Tulsa em Oklahoma um ano após de seu último título e agora sua história e seus títulos estão em nome do Dallas Wings no Texas. Os títulos do Shock são sempre lembrados na história da rua da arena, já que todo título que houve por lá o nome acrescentava o número de campeonatos vencidos pelos times em que sediava, no final de sua história a rua agora é eterna, seu nome é 6 Championship Drive em Auburn Hills, Michigan.

O que restou

A demolição da principal arena de basquete de Detroit não apaga a história e os fatos que aconteceram por lá, o Pistons a serviu bem desde 1988 até 2016 em que seu povo batalhador viu seu time levantar 3 títulos da NBA com 2 das melhores gerações que eles podiam ter visto.

A arena também jamais será apagada pelo ponto de vista do basquete feminino, já que nunca houve um público tão fanático e apaixonado pelo seu time como os torcedores do Shock que ajudaram e muito a liga ser popularizada e também ser respeitada por muitos.

O Malice At The Palace, apesar de ter sido uma tragédia, nos trouxe diversos ensinamentos e mudou diversas diretrizes da liga de basquete até hoje, o que protege os jogadores e seus torcedores de ocorrer um feito como aquele novamente.

O amor e as lembranças ficam enquanto o material é levado pelo tempo, mas há de ser entendido de que o The Palace foi uma das melhore arenas que os fãs de esportes poderiam ter, além de ter acontecido diversos shows marcantes para muitas pessoas dos subúrbios de Detroit que estiveram longe de seu clube por anos por conta de todos os problemas provenientes da queda socioeconômica de uma das maiores cidades dos EUA.

O The Palace uniu pessoas e deu uma alegria a um povo que buscava sempre sua redenção e encontrou isso com seu time de um esporte que não era nem tão popular para eles, isso é acrescentar um esporte, isso é acrescentar uma cultura, isso é a teoria da torcida em prática, e assim será por todo o sempre, uma das maiores arenas de todos os tempos.

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