Muito se fala sobre as novas regras que vão entrar em vigor em 2022 — e que entraram parcialmente em vigor em 2021 —, visando trazer mais equilíbrio pro esporte e evitar que apenas as equipes com maior capital tenham chance de ganhar.
Como grande parte da equipe aqui do site se conheceu através da NBA, eu — como um amante do esporte — não pude deixar de perceber as semelhanças assim que as novas regras da F1 saíram. Assim, vou falar um pouco aqui sobre essas mudanças.
Como isso se assemelha à NBA?
Bom, na maior liga de basquete do mundo, os times tem um teto salarial para evitar que as maiores franquias deixem o esporte desequilibrado, assim como existe o Draft para possibilitar que as equipes que se saíram mal na última temporada peguem um jovem talento e mudem o rumo da franquia.
Na temporada de 2022, teremos diversas mudanças pra trazer mais equilíbrio à F1. Elas estavam previstas para este ano, porém as consequências da pandemia fizeram com que essas alterações ficassem para 2022. No entanto, as mudanças financeiras já começaram a entrar em vigor, visto que com as perdas financeiras causadas pela COVID-19, essas mudanças serviram como uma saída para ajudar as equipes.
Teto salarial na F1
Antes das regras não havia um limite orçamentário, e com isso, as equipes com mais dinheiro podiam gastar o quanto precisasse para desenvolver um carro melhor, algo que as equipes menores não podiam fazer. Um exemplo é a Mercedes, campeã em 2020 pela sétima vez, que gastou cerca de 460 milhões de dólares. Como comparativo, a equipe que ficou em último, a Williams, gastou de 130 milhões.
A partir dessa temporada, o teto salarial foi definido em 145 milhões — 147.5 se incluirmos 1.2 mi em custos por corrida. Esse teto exclui os salários dos pilotos, gastos com marketing e os custos dos três funcionários mais bem pagos da equipe. Os gastos com funcionários em licença-maternidade e médica, além dos planos de saúde, também foram excluídos do teto orçamentário.
Em 2022, o valor vai diminuir para 140 milhões, e em 2023, para 135. Dentro desse limite, também fica inclusa uma restrição de 45 mi para gastos com maquinário e com upgrades nas fábricas das equipes para 2021. Tal valor cairá para 36 até 2025.
Todas essas mudanças servem para trazer um campeonato com mais vencedores diferentes, evitar uma dominância extrema e fazer com que todas as equipes briguem lá em cima em algum momento, visto que poucas equipes tendo oportunidade pelo título afasta o interesse de potenciais novas escuderias, corre o risco de perder as equipes menores da categoria, além de impactar no público e no marketing. A longo prazo, pode impactar negativamente o esporte.
Seguem os orçamentos das equipes em 2019 nos slides abaixo:
Imagem: RACENET.com
Alteração nos testes aerodinâmicos
Antes de 2021, não existia um limite de uso para o túnel de vento e para os testes aerodinâmicos em softwares. Essa é uma parte extremamente importante para o quão bem o carro do próximo ano vai se sair, pois é ali que as equipes pesquisam, testam e desenvolvem grande parte dos seus carros.
Contudo, já a partir de 2021, o time melhor classificado terá menos tempo de uso desses métodos de desenvolvimento, e os times em colocações mais baixas terão mais tempo para utilização.
Portanto, as piores equipes terão mais chances de melhorarem seus carros e de se aproximarem das equipes que terminaram mais acima, deixando o grid mais competitivo. Traçando um paralelo com a NBA, isso pode ser comparado ao Draft, em que os piores times podem ter uma perspectiva de melhora.

O novo carro de 2022
Seguimos para outras — e não menos importantes — mudanças que entram em vigor em 2022: o novo carro, que fez sua estreia no GP de Silverstone com a versão da F1. Sua pintura gerou opiniões controversas, porém mostra a direção que os novos carros vão seguir.

A primeira grande mudança é a alteração nas asas dianteiras e traseiras, que estão mais simples. Diversas áreas do chassi estão diferentes, como a remoção das estruturas laterais. As rodas também irão mudar de tamanho — de 13 para 18 polegadas — e de estrutura — os aros irão usar calotas e haverá uma nova estrutura em cima dos pneus dianteiros — a fim de diminuir a turbulência que essas peças causavam no carro de trás.

Para entender como isso afeta os carros, vou explicar brevemente. É comum que quando um piloto vai ultrapassar o outro, cole na traseira para pegar o vácuo, e com a ajuda do DRS e do ERS*, faz a ultrapassagem. Esse vácuo é criado quando o carro da frente faz mais trabalho pra cortar o ar, deixando uma bolha que forma uma zona de menor pressão aerodinâmica atrás dele. Nas retas, isso facilita para o carro que está atrás, pois o dá mais velocidade.
Entretanto, nas curvas, isso se torna o que chamamos de turbulência, pois com menor pressão aerodinâmica, os carros perdem aderência, o que é primordial nas curvas. E aqui, chegamos ao principal problema dos carros atuais: a grande dificuldade de se manter atrás de outro carro ao longo do circuito.
Hoje em dia, os carros têm apenas 55% de aerodinâmica quando se está atrás de outro. A previsão é que os novos carros tenham 86% de aerodinâmica, o que vai trazer mais ultrapassagens e dar mais dinamismo à corrida.
*DRS é o sistema de abertura da asa, que foi criado para ajudar nas ultrapassagens, e ERS é um sistema de energia que acumula a mesma através dos freios, podendo usá-la para adicionar mais potência no motor.

Ground Effect de volta à F1
Outra grande mudança é a volta do conceito de efeito solo, em que o carro gera grande parte de sua carga aerodinâmica através do Efeito Venturi, que consiste em criar uma zona de baixa pressão. Isso restringe a área de circulação em que o ar pode circular com mais rapidez, criando um efeito de sucção.
Imagem: AutoSport/YouTube
Esse efeito foi usado pela primeira vez na F1 em 1978, no revolucionário Lótus 78, sob o comando de Colin Chapman. No modelo, o ar escapava pelas laterais, diminuindo o efeito, o que ele solucionou fechando as laterais com painéis. Isso tornou o carro incomparável nas curvas, que compensava o tempo perdido nas retas. Se não fosse por problemas mecânicos, poderia ter sido campeão em 1978 — quando acabou vendo Niki Lauda ser campeão pela Ferrari.
Mais tarde, esse efeito seria banido em 1982 por preocupações em relação à segurança dos pilotos. Com os carros fazendo curvas a velocidades cada vez mais altas, qualquer dano no “piso” do carro ou nos painéis laterais faria o carro perder a maior parte da sua aerodinâmica, podendo gerar um acidente fatal.

Porém, com as evoluções na segurança das pistas e dos carros, é possível trazer esse princípio novamente, de maneira mais segura e que resulte numa corrida melhor. Além disso, terão mudanças nos difusores, nos dutos de freios traseiros, novos pneus, no DAS* — o da Mercedes será banido a partir de 2021 —, e a presença de materiais mais sustentáveis para uso, como linho, seda, bambu e algodão.
É esperado que o DRS também seja extinto futuramente. Tendo em vista que essa ferramenta só foi criada para driblar e tentar ajudar a solucionar o problema da falta de ultrapassagens gerado pela turbulência, ainda não se tem uma data prevista e não se sabe se ele estará presente em 2022.
O tempo das sessões de treino também diminuíram. Antes, as duas primeiras sessões duravam 90 minutos cada, e a terceira, 60, e a partir de agora, todas durarão 60 cada. O tempo máximo para a corrida, incluindo paralisações, é de três horas, diminuindo as quatro horas de atualmente.
*DAS: sistema capaz de alterar a geometria da suspensão dianteira por meio de um movimento telescópico do volante, como se fosse um ajuste de profundidade.
Fiscalização mais severa na cópia de peças
Depois da polêmica envolvendo a Pink Mercedes, a FIA decidiu se enrijecer em relação a copiar componentes de times adversários. Agora, é terminantemente proibido que haja acordos entre as equipes para que se tenha acesso a peças e materiais para desenvolvimento, só podendo se inspirar por meio de fotografias tradicionais, observação e vídeos.
“As regras atualmente dizem que é possível se inspirar em uma filosofia ou um conceito de um carro rival, ou seus componentes individuais e exclusivos. Qualquer informação usada para criar suas próprias peças deve estar disponível para todos os competidores, e só pode ser obtida em eventos e testes”
As regras também banirão qualquer tipo de engenharia reversa de um carro rival, seja por escaneamento 3D através de câmeras especiais ou por qualquer outro método.

Vale lembrar que o novo carro mostrado em Silverstone não necessariamente é o que vamos ver no grid ano que vem, é apenas a visão da FIA para o conceito do novo carro.
Também é bom dizer que cada equipe pode ter sua visão e alterar a estrutura em algumas partes dos carros, e apenas algumas estruturas mais importantes vão ter que seguir um padrão, como as asas, e sem extensões aerodinâmicas nas partes laterais. Portanto, devemos ter carros bem diferentes uns dos outros.
E você, o que acha? Com todas essas mudanças, você acredita que a Fórmula 1 está indo na direção certa? Deixe nos comentários!