Escolhido na primeira escolha por ninguém menos que Michael Jordan, Kwame Brown viu o seu “sonho de fadas” se transformar em um grande pesadelo
Lá no começo do milênio, em 2001, um jovem estudante do High-School (o Ensino Médio dos norte-americanos) se destacava pela Glynn Academy, na Georgia, quando se tornou o maior líder de rebotes (1.235), tocos (605) e o segundo maior cestinha (1.539 pontos) da história do colégio. Este mesmo jovem foi eleito para o McDonald’s All American Team e era considerado o melhor jogador do Ensino Médio.
Ainda no mesmo ano de 2001, o maior (e melhor) jogador da história do basquete, Michael Jordan voltava para a liga na função de Presidente de Operações do Washington Wizards, e foi exatamente nesse momento que as histórias de Jordan, e a jovem promessa do basquete, se cruzam.
No Draft de 2001, com a primeira escolha para o Wizards, Michael Jordan fez a escolha arriscada de selecionar Kwame Brown, ainda no High-School. Em sua primeira entrevista pós-Draft, Kwame afirmou:
Tenho consciência que, se estragar tudo, estarei mexendo com a reputação do Michael. Sei que ele vai me incomodar até a morte.
Foi com essa pressão que Kwame Brown ingressou a NBA, mas o pior ainda estaria por vir. Pois Michael Jordan, aos 38 anos de idade, decidiu retornar as quadras como jogador.
A pressão de jogar ao lado de Michael Jordan

Michael Jordan abriu mão do cargo de Presidente para jogar pelo Wizards com um objetivo: desenvolver os talentos do núcleo jovem da franquia. Seu “simbólico” salário foi de 2.3 milhões de dólares por 2 anos, e acabou sendo doado para as vítimas do 11 de Setembro.
Em teoria, essa era uma ideia perfeita. Kwame ainda era muito “cru” para o basquete profissional, e teria ao seu lado simplesmente o melhor jogador da história, que o escolheu no Draft. Mais que isso, Jordan era o maior ídolo de Kwame e naturalmente seria uma espécie de mentor para o jogador.
Entretanto, Jordan era o mesmo atleta extremamente competitivo dos tempos de Chicago Bulls. Ele exigia muito dos companheiros de time, e não tinha nenhum tipo de filtro durante os treinamentos, quando precisava ser ríspido.
Em “The Last Dance”, por exemplo, vimos momentos de fúria da lenda, que em chegou a agredir Steve Kerr durante um treino. Além, é claro, de todo o trash-talk em cima de Scott Burrell. No entanto, ambos eram jogadores com bagagem na NBA, ao contrário de Kwame, que passou maus bocados com seu ídolo.
O pesadelo de Kwame Brown

Tendo em vista todo o retrospecto de Bulls, juntamente com a possibilidade de Kwame se tornar um “fracasso” em sua gestão, Jordan cobrava muito do novato. E não demorou muito para surgirem os primeiros boatos do conturbado relacionamento entre eles.
Segundo os boatos da época, Jordan proferia gritos homofóbicos e o humilhava verbalmente durante os treinos. Tudo virou uma imensa bola de neve quando outro boato, de que Kwame Brown seria homossexual, começou a ganhar força entre os torcedores e a imprensa.
Kwame era um jogador tímido e não-midiático. Com isso, sua situação foi muito similar a um exemplo aqui do Brasil, do ex-jogador de futebol Richarlyson. E para piorar, Michael isolava Kwame Brown das festas pós-jogo com os companheiros de time.
Toda essa pressão atingiu o emocional de Kwame durante sua passagem pelo Washington Wizards. Nos dois anos em que jogou com Jordan, Kwame Brown teve médias de 5,9 pontos, 4,4 rebotes em 18,2 minutos por jogo. Embora fosse a primeira escolha de sua classe, Kwame ficou de fora do primeiro e segundo time de calouros.
Kwame pós-Michael Jordan

Quando Jordan se aposentou em 2003, o Washington Wizards optou por não colocá-lo em seu antigo cargo e remontou o elenco. A resposta de Kwame Brown foi imediata e, sem a pressão de jogar com seu ídolo, teve sua única temporada com mais de 10 pontos por jogo, e elevou os seus rebotes para 7.4 em 30,2 minutos por partida.
Porém, na temporada seguinte (2004-05), Kwame se juntou ao Lakers de Kobe Bryant, colecionando altos e baixos, e sua carreira não teve a crescente que era esperada. Jogando como pivô, foram quatro temporadas em Los Angeles e uma queda brusca de produção.
Se em 2006-07 suas médias foram de 8.4 pontos e 6 rebotes, uma lesão na temporada seguinte fez com que seus números caíssem para 5,7 pontos e 5.7 rebotes, em apenas 23 jogos. Além disso, Kwame acabou perdendo sua posição para o promissor Andrew Bynum, selando o fim de sua passagem pela franquia.
Acima de tudo, Kwame não demonstrava confiança dentro de quadra. Em entrevista, Kobe relevou um pedido que Kwame fez para ele:
Certa vez, ele olhou para mim e pediu para que não passasse a bola, porque ele tinha medo de errar.
Por essa frase é visível perceber que o amor que Kwame já teve pelo basquete no começo da carreira, se perdeu. O sonho de ser uma estrela não se concretizou, e jogar com o seu herói de infância virou uma enorme decepção.
Mais do que um mero “bust”, Kwame Brown foi o jogador errado, na franquia errada e no momento errado. Finalizo a matéria com o seguinte questionamento: como teria sido a carreira de Kwame sem Michael Jordan?
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