Em 1983, Billy Collins Jr. e Luis Resto protagonizaram a maior mancha da nobre arte
Dentre todos os esportes, o boxe sempre se destacou pelo seu glamour. Não à toa, a modalidade possui o título de nobre arte no Brasil e de sweet science (doce ciência) em países de língua inglesa. Grandes campeões como Muhammad Ali, Joe Frazier, Joe Louis, Rocky Marciano eram verdadeiros astros, reconhecidos pela imensa maestria dentro dos ringues — além, é claro, da brilhante luta pelos direitos civis de boxeadores, como os já citados Ali e Frazier.
No entanto, mesmo com tantos atletas renomados, o meio do boxe nunca esteve imune da “sujeira”, sobretudo das lutas com resultados pré-definidos. Contudo, nenhuma noite de luta foi tão suja — e tão desumana — quanto o combate entre o jovem Billy Collins Jr. e o experiente Luis Resto, em 1983.
AVISO: Desde já, vale destacar que os próximos parágrafos irão abordar uma luta extremamente pesada e com consequências trágicas, que podem ocasionar gatilhos emocionais.
Prólogo: Billy Collins Jr., uma estrela em ascensão
Aos 21 anos, o maior sonho do jovem lutador de norte-americano, de ascêndencia irlandesa, Billy Collins Jr., estava prestes a se realizar. Seu cartel era impecável: 14 lutas e 14 vitórias, sendo 11 nocautes. O destino de Collins era certo — o cinturão de Campeão Mundial da categoria Médio-Ligeiro.
Para a sua décima quinta luta, no lendário Madison Square Garden, o adversário de Collins era o porto-riquenho Luis Resto, um veterano de 29 anos, conhecido como sparring do lendário Roberto Dúran. Embora fosse um lutador experiente, Resto era o azarão da noite — um adversário ideal para Collins se firmar como um postulante ao título.
Dessa forma, em 16 de junho de 1983, o palco estava montado para que Billy Collins Jr. enfrentasse Luis Resto pelo card preliminar do evento. Porém, o que era para ser uma luta tranquila em Nova Iórque, logo se transformou num melancólico massacre.
Capítulo I: Noite de sangue
Às 20h, a totalidade do território americano, através da ABC, acompanhou Luis Resto operar um massacre físico em Billy Collins Jr. durante 10 rounds. Collins Jr. resistiu bravamente a violentos e intermináveis socos proferidos por Resto.
A força de Resto era tremenda, a ponto de Collins dizer à seu pai — seu treinador — a seguinte frase: “Ele é muito mais forte do que eu pensei, cara. Muito mais. Não pensei que Resto batesse tão forte. Parece que ele tem um tijolo nas mãos”.
Sem ações a partir do sétimo round, e com seu rosto visivelmente deformado, Collins Jr. tentava apenas se proteger, na tentativa de evitar não só um nocaute, mas um óbito na lona. A imagem era assustadora para quem assistia. Chorando, Collins Jr. de forma melancólica, dizia ao pai: “Estou cego, não consigo ver nada”.
Posteriormente, ao soar do gongo, Luis Resto comemora a vitória que parecia óbvia. O público, eufórico, aplaude os lutadores pela “feroz” exibição. De forma amistosa, Resto cumprimenta Collins Jr. e seu pai, porém, Collins Sr. sente um peso ao tocar as luvas do porto-riquenho.
Resto, assustado, tenta afastar as mãos, mas Collins Sr. as segura. O treinador chama imediatamente o juiz da luta, para notificar algo inimaginável: “Comissário… comissário! Não há enchimento! Não tem a porra do enchimento nas malditas luvas!”
Capítulo II: Um Assalto no Ringue
Duas semanas após o incidente, a Comissão Atlética do Estado de Nova Iorque (NYSAC) alterou o resultado da luta para um No Contest (sem resultado). Luis Resto e seu treinador, Panama Lewis, foram banidos do esporte. Porém, Lewis voltou a se envolver com as lutas na década passada, até falecer em setembro de 2020.
Ao longo de décadas, Luis Resto sempre negou a adulteração das luvas. Porém, em 2007, o ex-lutador fez revelações impactantes. Resto afirmou que Lewis não apenas tirou o enchimento das luvas, como também as solidificou com a utilização de gesso.
Não bastasse a inacreditável modificação das luvas, Lewis também costumava colocar comprimidos, utilizados para o tratamento da asma, nas bebidas de seus lutadores. Os comprimidos aumentavam a capacidade pulmonar dos atletas, para evitar o cansaço. Resto admitiu que tomou a bebida ao longo do combate — confirmando o uso de doping.
Atualmente, Luis Resto, aos 65 anos, segue proibido de praticar, treinar e se envolver com o boxe profissional.
Capítulo III: O triste fim de Billy Collins Jr.
A luta contra Resto deixou sequelas irreparáveis na vida de Collins Jr. Os duros golpes de gesso provocaram problemas graves de visão, forçando sua aposentadoria do boxe. Além disso, Collins não conseguia arrumar nenhum outro emprego.
Essa série de eventos fez com que Collins Jr. entrasse em uma profunda depressão. Nove meses depois de sua última luta profissional, no dia 6 de março de 1984, Billy Collins Jr. faleceu em um acidente de carro, aos 22 anos de idade. Amigos próximos do lutador acreditam na hipótese de suícidio.
Nascido no Tennessee, Billy deixou seu nome para sempre na história do boxe, mas não da maneira que tanto sonhou. A noite da sua última luta será lembrada para sempre, assim como o GP de San Marino de 1994, como um dos eventos que não deveriam ter ocorrido.
O esporte perdeu um grande talento, assim como uma grande lição de algo que não pode ocorrer nunca mais. Resta torcermos para que matérias, como esta, não tenham que ser escritas novamente para que a memória de Billy Collins Jr. não seja esquecida jamais.
Muito bom mano!!
Merecia filme essa história ai
CurtirCurtido por 1 pessoa